As ruelas estreitinhas
Vestidas de antiguidades...
As janelas rendilhadas;
Nas calçadas as pedrinhas
Ó linda cidade nova
Deixa cantar esta trova
Aos recantos da cidade
A estas ruas velhinhas
Senhora da Piedade
Senhora da Boa–Morte
Ninguém sabe a sua idade
Seu destino, sua sorte
Ruas da minha cidade
Feitas de recordações:
Cada qual seu pergaminho
Com as suas tradições
Das festas, das procissões
Tantas ruas esquecidas
Da S. Lázaro a S. Martinho
Chão do Mestre, Gonçalinho
Tantas ruas escondidas
Minha altiva Rua Escura
Diz-me quem te escureceu
Se te chamam "triste – feia"
Adoça tua amargura
Se Viseu tem formosura
Foi da Rua da Cadeia
E de ti que ela nasceu !
Ruas vencidas pelo tempo
Abraçadas como irmãs
Ruasinha das Quintãs
Caída no esquecimento
Como tu há tantas outras
Engalanadas com roupas
Esperando que o sol chegue
Uma porta, uma parede
Tão juntinhos os beirados
Tão bonitas as janelas
Com os vasos enfeitados
De floresinhas singelas
A Rua da Árvore, a Prebenda
A do Carmo e outras mais
Bebiam em Santa Cristina
Numa fonte feita lenda
Das épocas medievais
Da tradição e da fé
As escadinhas da Sé,
Silva Gaio, Soar de Cima
Praça velha, dos ferreiros
Praça Nova, a transbordar
Com a feira semanal
Como é bom recordar
Esta herança já perdida,
Em tanta coisa lembrada
Em tanta coisa esquecida !
Os sinos da madrugada
Em tanta torre altaneira
A cidade era acordada
Da Via–Sacra à Ribeira
Ruas que são a saudade
Que trago dentro do peito...
Ruas que tanto respeito
Por lá morar a humildade
Nova rua, Rua Nova
Toda tu um relicário
Empresta-me a voz do Hilário
Para cantar esta trova
(E o violino do Pedrinho
Envolvido em pergaminho)
À linda cidade nova
Cantar as ruas velhinhas
Cantar todos os recantos
Tantas portas, janelinhas...
Tão pequenas as casinhas !
Tanta gente, tanta cor
Tantos e tantos recantos
Tanta criança a sorrir
Tanta paz , tanto amor
Tanto motivo p’ ra ver ...
Quem os lá não descobrir...
É CEGO SEM O SABER !
Viseu, Abril 1980
Ricardo Sandro
in http://jograisdeviseu.no.sapo.pt/
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