sábado, 29 de julho de 2006

VISEU (Vista Parcial)

Descendo a Rua Direita
cujo nome não comporta
por sinuosa e estreita,
(melhor seria rua torta),
admira-se a cada porta
comércio mui variado,
desde os artigos de horta
ao alto industrializado.
Ao fundo fica o Soldado
Por demais reconhecido
Que continua a ser chamado
De Soldado Desconhecido…
Envolta por jardim florido,
mesmo em frente ao lar
-Escola do desvalido-
a estátua parece estar
para o Fontelo a olhar
no seu olhar distante,
para esse paraíso ímpar,
encantador e repousante…

Um pouco mais adiante,
nossa vista descortina
nutro Éden luxuriante:
-Jardim de Santa Cristina.
Ao centro estátua empina
do Bispo temerário
D. Alves, cuja doutrina
impunha o Credo ao salário.
Logo atrás o Seminário,
bonito, arquitectural;
é o centro universitário
para a vida clerical.
E subindo vamos dar
ao Rossio. Que delícia
sentimos ao ali chegar,
que aroma, que carícia!
trás ficou a Polícia
que me esqueci de referir,
não por qualquer malícia
nem razão para omitir…
Bem, do Rossio a seguir,
surge a Igreja dos Terceiros
e o Tribunal onde hão-de ir
gatunos e trapaceiros.
E dali, sobranceiros,
Vários caminhos vão dar
A Ranhados, a Jugueiros,
Lisboa, Porto e Tomar.

E chega de tanto falar
do Rossio. Impõe o bom gosto
nesta volta não descurar
a Rua vinte e um d ´Agosto.
Dali depressa acosto
a imponente recinto.
Este largo que eu pinto
é o largo da Feira
aquele amplo labirinto.
Mas podia, sem asneira,
argumentar com o facto
de me referir à Ribeira
ou à Cava de Viriato.
Mas voltando ao retrato
da rua em referência,
esqueci-me de dar trato
à Caixa de Previdência.
P´ra compensar a negligência,
da Cava vou ao Liceu
onde impera a ciência,
a douta raiz de Viseu.
Passo o Parque, aberto ao céu,
subo ao ciclo, onde Camões,
encontra enfim, lugar seu,
depois de tantos trambolhões…
Perto ficam os batalhões
do Catorze de Infantaria,
mas essa e outras questões
deixo-as para outro dia.

Desço a Avenida que irradia
doce encanto, graça subtil!
Por Salazar se conhecia,
hoje vinte e cinco de Abril…
A política é coisa fútil,
nem é para aqui chamada…
Acho muito mais útil
continuar a caminhada…
Entro agora na chamada
Rua do Comércio. É asneira
ser assim apelidada:
Certo é: - Luís Ferreira.
Mas assim ou doutra maneira,
não é isso que me dá enfarte…
Surge agora, sobranceira,
Praça del-rei D. Duarte.
No frio bronze, a Arte,
está ali bem patente;
não há olhar que se farte
de admirar o Eloquente!

Um pouco mais à frente,
pertinho, ali ao pé,
grandiosa e imponente
ergue-se a vestuta Sé;
de remotos tempos é
este famoso monumento
onde vai rezar a Fé,
a dor, mágoa e sofrimento…
Com a Sé no pensamento,
desço a Vigia, calçada
que vai dar seguimento
a outra praça já falada.


De Viseu, pouco ou nada
disse. Um dia com mais vontade,
volto com pena inspirada
a outras temas da cidade.
Viseu merece; Viseu há-de
ser cantada por ti, por mim,
por todos que têm amizade
a esta cidade jardim.
Mas por hoje chego ao F I M.

Poesia de Caetano Carrinho (1997), publicada no livro "Encanto, Desencanto, Gargalhada e Dor" editado pela Junta de Freguesia de S. José de Viseu.

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