segunda-feira, 28 de abril de 2008

Cidade espera novas oportunidades

Todos querem o comboio em Viseu
Viseu espera por uma decisão que torne o processo da ligação do TGV à cidade irreversível. Fernando Ruas considera que “nunca as coisas estiveram tão perto”. A secretária de Estado da tutela confirma o optimismo.

A cidade de Viseu viu e ouviu durante um século os comboios a passar, mas, em 1990, com o encerramento da linha do Vouga, as velhas locomotivas de linha estreita e antiquada apitaram pela última vez.As linhas do Dão, que ligavam Viseu à ferrovia da Beira Alta em Santa Comba Dão, e a do Vouga, que se prolongava por 140 quilómetros até Espinho, chegaram a criar uma verdadeira “cultura do comboio”, com estudantes e militares a escreveram as principais linhas desta história.
Mas ambas terminaram com o advento da década de 1990, a primeira, a do Dão, em 1989, que foi criada em 1890, e a segunda, em 1990, tendo nascido em 1908, mas, agora, já em pleno século XXI, onde a palavra TGV anda de boca em boca, todos em Viseu querem ouvir o comboio a apitar pelas redondezas de novo. Primeiro era, desde que as linhas de via estreita do Dão e do Vouga foram extintas, uma ligação à linha da Beira Alta a exigência, mas agora, quando já se fala na construção de uma nova linha de velocidade elevada, até 250 km/h, entre Aveiro e Salamanca, Viseu não quer ficar de fora e as movimentações já estão no terreno.
“É bom que as pessoas não se esqueçam que Viseu é a única cidade europeia com esta dimensão – cerca de 100 mil habitantes – que não tem uma ligação ferroviária”, tem repetido o presidente da câmara de Viseu, Fernando Ruas.
Pouco inquieto com os prazos, Ruas quer mesmo é ver tomada uma decisão que torne o processo de construção da ligação a Viseu irreversível, e isso passa por a ligação Aveiro Salamanca começar da linha do Norte em direcção à fronteira e não, como já está garantido, entre o Porto de Aveiro e a linha que liga Lisboa ao Porto.
O ideal, refere o autarca, é que a linha em velocidade elevada entre Aveiro e Salamanca possa ter o seu primeiro troço no percurso entre a cidade de Viseu e a linha da Beira Alta. Isto porque permitiria resolver dois problemas: garantir a construção da nova linha e colocar “já” a cidade de Viseu no mapa-mundo da ferrovia.
Também com a mesma urgência pedem os industriais e empresários de Viseu que o comboio apite de novo na cidade. João Cotta, presidente da Associação Industrial da Região de Viseu (AIRV), fala mesmo numa “questão de coesão nacional”, porque “hoje quem investe em Viseu tem à partida uma desvantagem” em relação a todos os outros centros urbanos importantes: “falta o comboio”.
Poder-se-ia colocar na primeira linha das justificações para exigir o comboio em Viseu, lembra Cotta, a questão ambiental, tendo em conta as vantagens da linha férrea nesta matéria, mas não se pode ignorar de igual modo que a cidade poderá vir a ficar a apenas “três horas dos cinco milhões de consumidores da região de Madrid”. Reduzem-se os custos, aumentam as possibilidades e os novos mercados, diminuem as assimetrias, criam-se novas centralidades, reduz-se a interioridade, equilibram-se as actuais desvantagens competitivas e agiganta-se a coesão nacional, são alguns dos argumentos expostos por João Cotta na defesa do comboio para Viseu.
Ao longo dos últimos anos, tanto o PSD como o PS têm-se, através dos seus deputados eleitos pelo distrito de Viseu, desdobrado na formulação de requerimentos ao Governo com o objectivo de forçar o regresso do comboio à cidade.
A palavra “revolução” é mesmo utilizada amiúde por vários intervenientes deste processo para descrever o significado do regresso do comboio a Viseu. Para já, admite Fernando Ruas, nunca as coisas estiveram tão perto, desde que a secretária de Estado dos Transportes, há alguns meses, disse em Salamanca, Espanha, que a linha de “elevadas prestaciones”, seria construída entre Aveiro e Salamanca, via Viseu.
A secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, garantiu, entretanto, que não há atrasos no projecto de construção da linha de velocidade elevada entre Aveiro e Salamanca, com passagem por Viseu.
A governante explicou, depois de o assunto estar ciclicamente a emergir como uma das grandes prioridades para o poder local em Viseu e também para as associações de empresários e industriais, que a data de 2017, que estava no plano em 2004, “não está em causa”. No entanto, Ana Paula Vitorino lembrou que não havia nenhum estudo sobre a viabilidade física da construção ou estudo económico-financeiro para o projecto e é isso que está a ser feito actualmente, o que “leva alguns anos” a realizar.
in Jornal Primeiro de Janeiro

3 comentários:

Anónimo disse...

Explica me uma coisa e já agora também aos Viseenses como se eu tivesse quatro anos...Como é que Fernando Ruas em 1988 vem dizer que o Comboio não fazia falta a Viseu, que o mesmo atrasava o desenvolvimento da cidade, tendo mesmo destruido a sua estação em 1994.E agora vinte anos depois "chora-se" todo porque Viseu não tem comboio(???!!)

Anónimo disse...

Na verdade, � estranho! E com canais ferrovi�rios j� constru�dos � espera de nova oportunidade decidiu fazer ecopistas que n�o servem a POPULA��O e, pasme-se, custam dinheiro ao er�rio p�blico! Mas como diz o an�nimo anterior, deve ser problema meu n�o entender bem de pol�tica, ou da falta de ir para a rua(s).

José Fernando Rodrigues disse...

Como é do Vosso conhecimento, nos últimos anos, o nosso país têm assistido a um amplo debate público e político acerca da modernização da rede ferroviária nacional e da alta velocidade.
Como é também do conhecimento de Vossa Excelência, à mais de duas décadas que a cidade de Viseu e região envolvente viu desactivadas as duas linhas ferroviárias, de via estreita, que a serviam, a saber, a Linha do Dão e do Vouga. Desde então, tem crescido, de forma exponencial, a circulação de passageiros e mercadorias por via rodoviária com os inerentes transtornos ambientais, económicos e de desgaste das vias que, este aumento de circulação, acarretam. A título de exemplo deixamos o conjunto de intervenções que foram necessárias ao longo da história dos Itinerários Principais números 3 e 5 e do volume de acidentes de viação registados nestas duas vias. Pese embora o facto da nossa anterior afirmação poder gerar alguma celeuma, pelo menos pensamos ser consensual que a existência de uma linha ferroviária diminuiria o tráfego rodoviário na região.

Na nossa modesta opinião, pensamos estar na altura de um debate sério, amplo e concreto para voltar a trazer o comboio a Viseu.
Os visienses e beirões já merecem o regresso deste meio de transporte mais seguro e confortável do que os expressos que inundam a nossa região.
Os nossos empresários agradeceriam certamente uma via mais rápida e económica de fazerem escoar as suas mercadorias quer para a Europa através de Vilar Formoso, quer para o resto do mundo, através do porto de Aveiro.
Os nossos turistas, habituados que estão a ter comboio em qualquer vila de média ou pequena dimensão nos seus países, agradeceriam com certeza o transporte ferroviário. Neste ponto, uma palavra para os turistas espanhóis que, da região de Madrid até a fronteira, têm a costa do centro de Portugal como o destino balnear mais próximo.
Os cerca de duzentos mil habitantes da grande região da faixa Viseu Aveiro, veriam substancialmente melhorada a sua qualidade de vida, a sua mobilidade e as oportunidades de emprego que este projecto poderia gerar.
O ambiente, bandeira que deve ser a primeira nas nossas preocupações, ficaria amplamente aliviado com a retirada de milhares de transportes pesados de mercadorias e passageiros das estradas da região e do país porque este projecto teria dimensão nacional.

Desprovidos de conhecimentos técnicos, não nos pronunciaremos sobre as soluções ferroviárias mais adequadas, trajectos ou material circulante recomendado. Esta discussão fica para quem de direito, contudo, pensamos interpretar bem a vontade dos visienses ao apontar a ligação Linha da Beira Alta à Linha do Norte como a mais adequada para todas as forças vivas da região, ligação esta que serviria todos os concelhos do eixo Viseu Aveiro.
Certos de que esta nossa missiva terá o acolhimento adequado por parte de Vossa Excelência, optimistas quanto aos frutos que possam advir da nossa singela iniciativa, despedimo-nos, com o envio de calorosos cumprimentos beirões.
Atenciosamente.
José Fernando Rodrigues