sábado, 14 de junho de 2008

Crise ameaça comércio e fecha uma loja por dia

Lojas a retalho estão a fechar ao ritmo de uma por dia no distrito de Viseu. Comerciantes soçobram à crise mais violenta dos últimos 50 anos.

Classe exige que o Governo contenha disseminação crescente de grandes superfícies. Estão a chegar à Associação de Comerciantes do Distrito de Viseu (ACDV), todos os dias, cartas de associados a comunicar a cessação da respectiva actividade. "É a oficialização de uma realidade que está à vista de todos", denuncia Gualter Mirandez, presidente daquela associação de classe, que vê no "baixar de braços" dos comerciantes da praça, "a prova da mais profunda e insuportável crise que se abateu sobre o comércio tradicional nos últimos 50 anos".

"Na Rua Miguel Bombarda, praticamente colada à praça da República, na capital de distrito, fecharam seis estabelecimentos numa só semana. Na mesma zona, agora na Avenida Alberto Sampaio, multiplicam-se os avisos, colados nas portas fechadas, de venda, aluguer ou trespasse de instalações. A Rua Direita, centro nevrálgico da actividade comercial - cantada por poetas pelo colorido dos seus escaparates - definha numa morte há muito anunciada.

"Este é o cenário. Não há como escondê-lo", desabafa Gualter Mirandez. O dirigente culpa a crescente multiplicação de novas médias e grandes superfícies comerciais pelo colapso que se adivinha no comércio a retalho. "Faltam-nos argumentos para qualificar o que tem vindo a acontecer na nossa região. Nos últimos quatro anos, o território foi tomado de assalto. O tecido empresarial não aguenta uma tal densidade de estabelecimentos.

A manter-se este ritmo, muitas pequenas e médias empresas correm o risco de desaparecer", avisa. O dirigente, que ao final da tarde de ontem promoveu uma reunião com comerciantes da praça para preparar uma jornada de luta, no final do mês, acusa as grandes superfícies de estarem a funcionar na região como "eucaliptos". "Salvo poucas excepções, todos os concelhos do distrito de Viseu estão a ser afectados.

As médias e grandes superfícies instalam-se e, tal qual o eucalipto, secam tudo à sua volta", acrescenta. O dirigente recorda, ainda, que a proliferação de lojas de grandes dimensões terá repercussão negativa sobre o mundo rural. "Será cada vez mais difícil aos agricultores conseguirem colocar os seus produtos no circuito comercial. Não conseguindo escoar o que produzem, também eles acabarão por desistir", teme Mirandez.

Numa altura em que a Câmara Municipal de Viseu (CMV) analisa dois pedidos de instalação de novas unidades comerciais - o Lidl e o Plus, na zona do antigo matadouro, junto à estrada de Sátão -, Gualter Mirandez afirma temer pelo futuro. "As empresas instalam-se com uma marca e passado algum tempo adoptam outra. A prazo, as diferentes superfícies de vendas estarão todas nas mãos de quatro ou cinco grupos".

"O presidente da Confederação do Comércio Português já alertou para o risco de uma futura cartelização dos preços. Se isso vier a acontecer, todos sairemos a perder. Ao contrário do que é propalado, os consumidores não poderão escolher e optar", conclui o dirigente. No final do mês, os comerciantes de Viseu entregarão na Assembleia da República as suas reivindicações.
Texto de Teresa Cardoso in Jornal de Noticias

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