terça-feira, 28 de outubro de 2008

Milhares de achados nas mãos dos arqueólogos

Tutela sem museus 'obriga' técnicos a armazenar peças históricas, algumas valiosíssimas
Os achados continuam "escondidos" e o público a não poder usufruir deles. Podia, se o Ministério da Cultura tivesse em Viseu espaços capazes. Como não tem, resta esperar pelo museu da história da cidade, em estudo.

"Onde param os achados arqueológicos encontrados em Viseu?". A curiosidade, travestida em pergunta, é de Fernando Ruas, presidente da autarquia, que quer construir o museu de história da cidade e ter lá as peças mais emblemáticas. O projecto do futuro espaço museológico, está a ser estudado por uma 'comissão de sábios', nomeada pela câmara.
A curiosidade de Ruas, porém, parece ter resposta. Milhares desses objectos, estão nos armazéns da Arqueohoje, em Viseu, a empresa que na última década fez o acompanhamento arqueológico da esmagadora maioria das obras realizadas no centro histórico da cidade.

E está tudo armazenado, porque a tutela não tem espaços próprios disponíveis para acolher o que quer que seja, em museus ou em edifícios propriedade do Ministério da Cultura.
"O que a lei diz é que os achados devem ser depositados no museu mais próximo, ou, na falta dele, nas instalações locais do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar). Ora, como não há nenhum museu próximo com capacidade para acolher aquele material, e como o espaço do Igespar é manifestamente diminuto, a alternativa foi levar tudo para os nossos armazéns. Está lá tudo em caixas, ensacado e inventariado", explica Pedro Sobral, da Arqueohoje, sem deixar de lamentar a situação. "Se estivessem expostas, o público podia usufruir delas. E compreendia até melhor o trabalho dos arqueólogos, muitas vezes criticado e espezinhado", sublinha.

Fonte do Ministério da Cultura, ouvida ontem pelo JN, lembra que o caso de Viseu não é único, e que a falta de espaços "vai sendo suprida à medida que a rede de museus é alargada".
Fernando Ruas não contesta a existência do manancial em poder dos arqueólogos: "não é só a Arqueohoje, antes dela houve muita escavação feita por outros arqueólogos. É preciso saber também onde pára esse material".
Depois, "importa ainda saber de quem é a titularidade das peças encontradas, se são do Estado ou da Autarquia". O edil considera que, tendo sido encontradas no espaço territorial do seu município, "faz todo o sentido que sejam propriedade da autarquia. Mas vamos apurar isso bem".
Ao todo, a Arqueohoje já terá sido responsável por mais de centena e meia de trabalhos de acompanhamento arqueológico. A maioria das intervenções, em espaços privados (casas, edifícios apalaçados ou terrenos devolutos).

A preponderância da imensidão de objectos encontrados (mais de 200 mil), são fragmentos de cerâmica (vulgo cacos), guardados em caixas empilhadas umas sobre as outras.
Mas à mistura, as escavações têm revelado descobertas valiosíssimas. As últimas, feitas no topo da Calçada de Viriato, junto à Casa do Adro, onde decorrem as obras do funicular, trouxeram à luz achados importantes, em especial os da Idade do Ferro, que os arqueólogos estão a estudar.
Pedro Sobral, volta a lembrar a lei: "sempre que queiram proceder ao seu estudo, os arqueólogos podem ter as peças em seu poder durante cinco anos".

texto de Teresa Cardoso in Jornal de Noticias (28-10-2008)

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