segunda-feira, 6 de outubro de 2008

"Não se lembra? deixe-me recordá-lo"

Faz precisamente hoje meio ano (seis meses, como tempo passa!) que a Câmara Municipal de Viseu (CMV)resolveu apresentar aquilo que tinha prometido discutir: um estudo que encomendou à ParqueExpo, o agora famoso Estudo de Enquadramento Estratégico da Área Crítica de Recuperação e Reconversão Urbanística.

E assim, porque me lembrei da "efeméride"; e porque o problema do nosso Centro Histórico é um problema de toda a cidade, de todos nós; e porque não houve o debate que nos prometeram e porque temo que este assunto caia no esquecimento, resolvi assinalar a data.

Foi no dia 3 de Abril, por volta das 20h50, no Salão da Paróquia de S. José que fomos agraciados (nós os cerca de 170 expectantes munícipes) com um simpático vídeo, porque "é o final do dia e as pessoas estão cansadas", onde em cerca de 15minutos, no mais exemplar estilo sócretino do "powerpoint" nos foi apresentado "O Estudo". E com pompa e circunstância, como manda o figurino. Na mesa de honra: um senhor, que não me lembro quem seja; outro senhor, de que não recordo o nome, mas que representava o IRU; o senhor Presidente do Conselho de Administração da Parque Expo; o senhor dr. Américo Nunes, na sua qualidade de presidente do Conselho de Administração da SRU-Viseu Novo; o senhor presidente da CMV, o dr. Fernando Ruas e por fim a senhora arquitecta Margarida Henriques, da CMV.

Muita coisa me ficou daquela noite. Destaco duas.

Primeira: a convicção do senhor presidente da CMV de que estávamos perante "o primeiro documento à séria que temos em relação ao centro histórico, com uma visão de conjunto (…) nós já fizemos muitas coisas no centro histórico, mas nunca tivemos uma visão de conjunto e [por isso] queremos levar à prática esse estudo". Surgiu-me logo a pergunta, que se mantém até hoje: Então, durante estes dezoito anos, se não foi com uma visão de conjunto que realizaram as várias intervenções, com que visão o fizeram???!!!

Segunda: e saber que se há bicho que o dr. Américo gosta, são as estrelas-do-mar – "é que se eventualmente cortarem um braço à estrela-do-mar, esse invertebrado tem a possibilidade de regenerar um novo braço. Na maioria das espécies não há casos semelhantes". Mas, talvez não seja um gostar genuíno. O bicho foi chamado para a patética "analogia" com o centro histórico: "onde alguns braços foram tocados, foram parcialmente amputados" agora é "preciso arranjar energia, informação para que esses braços se regenerem (…) foi por isso que criámos a SRU Viseu Novo".
Caro dr., a analogia – relação de semelhanças entre coisas diferentes, não serve aqui: a estrela-do-mar auto-regenera o bracito, o centro histórico só o regenerará com a ajuda de todos nós. O argumento que utilizou é falacioso e tem nome: "falácia da falsa analogia."
As palavras do dr. Américo são bonitas e fazem parte da cartilha de qualquer político que se preze: "Nós não queremos apenas reabilitar o espaço público (…) o que nos interessa é atrair para o centro histórico mais e mais pessoas, por isso a componente social é extraordinariamente importante e damos nós realmente uma grande atenção a essa componente".

Eu esperava, e espero, que sim, mas com esse "Estudo" no qual têm grande "segurança" e que vos "permite avançar na direcção certa" com tão "grande confiança", não o creio. Mas, isso ficará para uma próxima crónica.

Artigo de Opinião de FERNANDO FIGUEIREDO in Jornal do Centro, ed. 342, 03 de Outubro de 2008

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