quarta-feira, 8 de novembro de 2006

A Latoaria de "trás da Sé"

Artesão mantém viva tradição da latoaria em Viseu
A latoaria está em vias de extinção, sendo cada vez mais ameaçada pela utilização de novos materiais.
Há ainda, no entanto, quem tente manter viva esta tradição de trabalhar a folha da Flandres, não deixando que a profissão caia no esquecimento.
António de Jesus Carvalho é um desses exemplos. Aos 72 anos, o proprietário de "A Latoaria", situada nas traseiras da Sé Catedral de Viseu, em pleno centro histórico, não se lembra de alguma vez ter tido "outra arte", que ainda assegura no único estabelecimento do género na cidade.
Apesar das dificuldades e de, tal como afirma, "haver dias melhores do que outros", este é um trabalho que, embora esteja ameaçado, mantém por "carolice". Mesmo que a saúde nem sempre ajude e o obrigue "a resguardar-se mais", o artesão teima em pegar no martelo para dar aos objectos a forma desejada. As lanternas de modelo antigo são o "ex-libris" deste espaço comercial com 48 anos. Mas é também possível encontrar funis, regadores ou cântaros, lamparinas a petróleo, almotolias (onde se guarda o azeite) e pequenas peças de artesanato, que não deixam indiferentes quem por ali passa.
Inovar
Para manter a actividade, António de Jesus Carvalho dedica-se também a "inventar peças novas" ou a dar resposta a encomendas. "São sobretudo as pessoas que estão a requalificar casas antigas ou proprietários de espaços de Turismo de Habitação que vêm até cá comprar as lanternas", afirma, acrescentando que "já sabem o que podem encontrar nesta loja".
"Os objectos são todos feitos por mim", nota o proprietário. "Estamos sempre a aprender, o importante é usar a experiência para ver a melhor forma de criar as peças", defende.
Desde os dez anos de idade que este artista se habituou a conviver com a folha da Flandres, dedicando-se inicialmente "a fazer caleiras para telhados".
"Mas o que gostava mesmo era desta vertente do artesanato, na qual trabalhava sempre que podia", sublinha.
Amor à arte
"Foi aqui que me governei", recorda o artífice, que faz um balanço "positivo" da quase meia centena de anos em que tem o estabelecimento aberto ao público.
"A situação não está fácil, por isso qualquer coisa que se apure já é bem vinda", aponta, referindo que "o que compensa é mesmo o gosto por esta arte".
"Antigamente era uma área em que muita gente trabalhava, mas agora já só resto eu na cidade", afirma, acrescentando que "esta actividade dá para ir vivendo".
Ainda assim há uma certeza que ensombra "A Latoaria". "Lembro-me muitas vezes que isto amanhã pode acabar, porque os filhos não quiseram seguir esta área, para a qual também é preciso ter 'queda'", lamenta, adiantando que lhe "custa ter a oficina fechada".


AM in Diário Regional de Viseu (08-11-2006)

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