sábado, 24 de maio de 2008

Sociedade mobiliza-se em torno do Centro Histórico de Viseu

"Embuste", "mentira", "fraude" foram algumas das palavras de ordem que marcaram o primeiro debate público sobre a revitalização do centro histórico de Viseu e sobre o estudo de enquadramento estratégico para a revitalização da zona central da cidade, encomendado pela autarquia à empresa Parque Expo. A sala do Solar dos Peixotos acolheu cerca de 90 pessoas, entre moradores, engenheiros civis, arquitectos, comerciantes, docentes, artistas e políticos que se reuniram num momento de reflexão sobre o "coração da cidade".

A discussão pública ficou marcada pela ausência dos representantes da autarquia e, essencialmente, pelo elevado número de pessoas que envolveu. Para o movimento de cidadãos pelo centro histórico de Viseu, promotores da iniciativa, o debate permitiu verificar que a sociedade civil pode não saber identificar as soluções milagrosas para o centro da cidade, mas que está preparada para ser auscultada. "A sociedade estava apática e hoje [dia 16 de Maio] deu um importante contributo. Os cidadãos devem ser ouvidos e devem partilhar a opinião", refere Alexandre Azevedo Pinto.
O movimento de cidadãos, que em Outubro promoveu a petição pela revitalização urbana do centro histórico de Viseu, considera que o estudo de enquadramento estratégico pedido pela Sociedade de Reabilitação Urbana – Viseu Novo (SRU) à empresa Parque Expo é "um embuste" porque "não permite a revitalização em termos humanos, sociais e culturais" da zona crítica de Viseu. "Com base nas oito unidades de intervenção [previstas no estudo], a autarquia vai gerar mais 2400 postos de trabalho. Eu não acredito. Basta fazer contas. É preciso que as empresas produzam um milhão e 200 mil euros no mínimo só para pagar 500 euros limpos aos trabalhadores", explica Fernando Figueiredo, reforçando que o estudo "não serve para atacar um problema grave, como é o que foi diagnosticado no centro histórico".
Um dos participantes no debate alertou para o facto de a questão dos transportes não estar contemplado no estudo da Parque Expo. "O centro histórico não assume a centralidade que devia ter, porque não há nada nessa zona", salienta Bruno Camarinha, físico e viseense.
Segundo Fernando Figueiredo, as atitudes da autarquia estão a colidir com o estudo apresentado. "O estudo diz que é preciso criar dinâmica social, mas resolveram fazer a festa de Natal no Rossio. Eles não sabem o que devem fazer. Pediram à Parque Expo para elaborarem o estudo, mas esta não conhece a realidade local. Qual destes comerciantes foi consultado para o estudo?", refere.
Problemas de salubridade, desleixo, degradação das habitações têm contribuído para o aumento da desertificação do centro da cidade. O comércio tradicional faz contas à vida e desespera com a crise que atravessa. "Quando fizemos a divulgação do debate, entrámos nas lojas e as pessoas só não choraram ao pé de nós, porque somos estranhos. Atravessam uma fase muito difícil. Querem participar no processo mas temem que já esteja tudo decidido", afirma Fernando Figueiredo.
O representante dos comerciantes de Viseu, Gualter Mirandez, admite a existência de um comércio envelhecido, mas acredita que as políticas do poder central e local têm prejudicado a renovação do tecido empresarial. "Dói-me que apontem o problema só aos empresários. Tirámos gente do centro histórico, criámos outras centralidades e não existe vontade política para renovação dessa área. Os comerciantes estão lá [centro de Viseu] para ganhar dinheiro e não para definharem como está a acontecer".
Nas várias intervenções, os participantes deixaram claro que "são necessários mais debates com as participações da Câmara Municipal de Viseu e da SRU-Viseu Novo".
Para o docente e engenheiro civil, Paulo Albuquerque, "o estudo não vale o papel em que está escrito, o que vale é o debate, é levar as pessoas a participar". Algo que não acontece em Viseu, visto que as pessoas "são confrontadas com uma sugestão final".
"O nosso compromisso é de fazer chegar um conjunto de propostas à autarquia e à SRU, que poderão transformar-se em propostas válidas. Esta tem de ser a primeira de muitas discussões", declara Alexandre Azevedo Pinto, sublinhando que é crucial a participação das autoridades oficiais.

Texto de Ana Filipa Rodrigues in Jornal do Centro, ed. 323, 23 de Maio de 2008

2 comentários:

Anónimo disse...

Já agora, porque é que Viseu não pensa como "DISTRITO"? (UNIÃO)
Nunca chegaremos a lado nenhum quando se esquece o distrito e se pensa apenas em viseu!
Fico indignado com o esquecimento de terras pluriprodutivas, turisticas, multiculturais, ricas em conhecimento e que Viseu (capital de distrito) simplesmente ignora!

apoiem e passem palavra:
http://www.ipetitions.com/petition/ic26moimentananet/

Anónimo disse...

Tem razão amigo!