
texto Jornal As Beiras

Jornal Vía Rápida (23-08-2007)
texto Jornal As Beiras
Jornal Vía Rápida (23-08-2007)
Sandra Ferreira in As Beiras (7-08-2007)
Da janela vê-se: "Papelaria Herculano". Vende livros e revistas, talvez jornais. "Cervejaria Barata": entra um grupo de rapartigas loiras, no intervalo do almoço. Jardim infantil: o vidro da montra tem gravuras de palhaços e um macaco. À porta, duas empregadas, de bata. Lá dentro, uma outra, a lavar o chão. Pára um descapotável. Uma mulher jovem entrega a filha no infantário. Os preços rondam os 300 euros por mês, nos privados, mas não há vagas. Os públicos estão a fechar. A porta seguinte é uma clínica e depois uma oficina de automóveis: "Dom Motor". Na esquina em frente, uma loja de computadores Mac (perfeito) e um cabeleireiro-massagista.
Em cima, roupa a secar numa varanda. Pela janela ao lado vê-se uma cadeira e uma secretária vazia. Apenas uma garrafa de wiskey sobre o tampo. E um copo.
É um belo sítio para começar vida. Rua Alexandre Herculano, sossegada, muito perto do centro. Esta casa está à venda. É um T3 quase novo. Sala espaçosa com amplas janelas e vista desafogada, dois quartos com roupeiros, cozinha equipada. Preço: 125 mil euros. Menos de metade de um andar equivalente em Lisboa. Depois de várias visitas, esta parece a melhor opção. Um T3 numa zona menos central custava 92 mil, um T2 a precisar de obras, 70 mil.
A rua Alexandre Herculano começa perto de uma das rotundas da cidade (que dá acesso às várias saídas, entre as quais a da EN2) e segue até ao Hotel Grão Vasco, mesmo ao lado do Rossio, continuando pela Rua Direita, que desenboca no Largo Mouzinho de Albuquerque, onde fica o Teatro Viriato. A pé, 15 minutos.
Pelo caminho, supermercado "Boi D"Oiro", aberto 24 horas, café "Pão Quente da Avó", 2º Repartição de Finanças, Tesouraria da Fazenda Pública, sistema de senhas, sete pessoas à espera. "Lave o carro como gosta: Clean Park", por baixo de um escritório de advogados. "Noites Brancas - Comprar Compensa": loja de comércio tradicional, aberta até às 23 horas. Livraria "Brinco Livro", Café "Swiss Bar". Mais três cafés, com esplanada, uma casa de tabacos e charutos, mais um instituto de beleza, com massagens.
Cultura e hipermercados Viseu é a cidade dos cafés. No Rossio e nas ruas adjacentes, Rua da Paz, Rua da Vitória, Rua Formosa, na Rua do Comércio e na Rua Direita, há cafés antigos e modernos e pessoas a frequentá-los. Não servem apenas para tomar o pequeno almoço e seguir: servem para passar horas. Para estudar, ler ou conversar. Só pelos cafés, valeria a pena passar umas férias em Viseu. Morando cá, é todo um novo estilo de vida à nossa frente.
Passear pelas ruas é outro desporto na moda em Viseu. Nas lojas, os empregados são afáveis e profissionais como em nenhuma outra cidade do país. Mesmo quando não se compra nada. Parecem achar que vale sempre a pena conversar e apostar num cliente futuro.
Mas não é só por isso que as ruas estão cheias. É que é lá que as coisas a contecem. Subindo do Rossio, no Mercado 1º de Maio, há uma Feira do Livro e logo a seguir, antes da Catedral e do Museu Grão Vasco, realiza-se esta noite um concerto de jazz ao ar livre.
No Museu Grão Vasco, aliás, decorre um ciclo de cinema dedicado às artes plásticas
. No Teatro Viriato estão a terminar o espectáculos de dança da escola Lugar Presente e no Auditório Mirita Casimiro houve um concerto de jazz-folk do romeno Caroll.
Na "Livraria da Praça", um espaço para livros, tertúlias semanais e espectáculos no centro histórico da cidade, tem havido debates com personalidades como Pacheco Pereira, Jorge Silva Melo, Alexandre Quintanilha ou Nuno Crato. Mas a Livraria da Praça, num belo edifício entre um jardim e um museu, acaba de fechar, por inviabilidade económica.
""Agora já temos o Carrefour, mas o Pingo Doce é que vale a pena!
""Ah, o Jumbo. Viseu já começa a ser uma cidade onde se pode viver"."Eu perco-me no Jumbo. No Continente, sei onde estão nas coisas, dou-me melhor lá. No Jumbo, ando às voltas, às voltas...
"Conversa no bar do Teatro Viriato:
"O Day After está fechado. Onde vamos?
""Ficamos em casa, se não há discoteca...
""Aquele barzinho na Rua Direita, lembras-te, da outra vez...
""Estou farto de Viseu!
""E tu só vens cá nas férias, imagina eu...Não falta nada, nas ruas de Viseu. A cidade é fechada sobre si própria, como é normal numa cidade do interior. Não há um mar, nem um grande rio, as praças têm quatro lados. É confortável e protector. Parece que tudo faz sentido.
A rua Alexandre Herculano é ideal. Há de tudo, aqui. À distância de cinco minutos a pé, há uma escola e um hospital. Até uma farmácia, mesmo nos muros do cemitério.
Só falta encontrar emprego. No jornal, há vários anúncios. "Precisa-se cozinheiro. Part-time. Salário acima da média". Outro, no mesmo número de telefone: "Precisa-se empregado de mesa. Part-time. Salário acima da média". Outro: "Imobiliária selecciona consultores. Oportunidade de desenvolvimento pessoal. Retribuições à comissão". Outro ainda: "Admite-se motorista. Carta de pesados, para distribuição". Mais nada. Talvez acumulando a cozinha e o serviço de mesas? Não. Motorista é mais seguro.